sábado, 31 de outubro de 2009

Crush



Depois de muito tempo, voltei a ouvir Dave Matthews Band. Essa aí tocou um bocado.
Uma coisa que é muito importante em toda arte é a identificação. A gente escuta aquelas coisas bonitas dos pagodes e pensa "É assim que me sinto!" e aí aplica um "repeat" até cair bêbado chorando.

Todo mundo tem o artista com que se identifica mais. Comigo é o Matthews. Gosto do jeito que ele diz o que diz. Gosto do tom que ele diz o que diz nas canções dela. A história de como Little Thing, que aparece no Live at Luther College (que depois "virou" An another thing, no Some devil) surgiu é muito bacana. Crush é das canções que acho perfeitas em muitos sentidos - e que tem um tanto de novas conotações. Que canção que não ganha conotações novas todo dia, não é?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Insanity

Se abrisse o post logo de cara colocando o nome da banda, imagino só uma pessoa que leria interessada. Vou adiar então.
1994, o grunge ainda acontecendo, primeira administração Clinton - era outro período daqueles de "chega de republicanos!", que, para os que não se lembram, foi marcado por um outro Bush, o Senior, que também fez uma chuva de mísseis no mundo árabe. Nesse ano saiu esse disco. Era uma banda new wave que voltava com nova formação e com o frontman bem experimentado no cinema, fazendo canções muitíssimo maduras feito essa:
http://www.youtube.com/watch?v=sROhhid5CB4

A letra é brilhante, embora ela pareça ter surgido 2 anos tarde demais:
"The white folks think they're on the top, ask any proud white male
A million years of evolution, we get Danny Quayle"

"Mas quem são esses? De quem diabo você tá falando?"
Danny Elfman, jovem! E o Oingo Boingo!

domingo, 25 de outubro de 2009

Fale como se fizesse música

Não é incomum que imaginem que todo ateu é um sujeito que crê em nada, como se fôsse vazio. Se é "sem-deus", como denota a palavra, então não deve acreditar em nada, muito menos em algo intangível. Pensem o que quiser. O fato é que eu acredito em música. Imagino que, se todo mundo dedicasse algum tempo, todo dia, pra realmente ouvir uma música - como se colocasse o ouvido no peito de alguém pra auscultar o coração batendo, com muita atenção - esse mundo seria muito melhor. Se aprendêssemos a ouvir música direito, a ponto de conseguir perceber ritmos em tudo que ouvimos, então o mundo era outro. "Hitler ouvia Wagner!", vão criticar uns. Eu não disse que o mundo seria perfeito, respondo. Mesmo assim, acredito piamente que música transforma as pessoas. Como acredito, tem a ver com ouvir-se, com aprender que a gente é parte de um todo, que vibra, que ressoa, que retumba.

Tenho estado mais atento, tentando ouvir melhor. E continuo chato como sempre, querendo espalhar tudo quanto ouço de mais bonito pra todo mundo, quase como se fôsse vital. É parte da crença, a evangelização: quero que enxerguem a beleza que percebo,como se ela fôsse absoluta. Também continuo cada vez mais "abestalhado": ando na rua balançando os braços, fecho os olhos atravessando a rua, rio sozinho com refrões, canto pra Lua, escuto música na chuva... Dia desses arrumo um acidente.

Já besta desse jeito, esbarrei em "evangelização" de gente grande: o Maestro Benjamin Zander palestrando no TED, sobre música e paixão. Nem mesmo sou capaz de reproduzir o que ele disse - fora que nem é necessário - mas guardei tudo numa frase: "fale como se fizesse música". Não é exatamente assim que ele fala; é interpretação livre. Música não é uma invenção do homem; é uma descoberta. Ela tava aqui antes da gente e vai estar depois que formos embora. O que fazemos é participar, ouvindo atentos ou "fazendo música".

"Falar como se fizesse música" é dar essa atenção de que tudo precisa, no fim das contas, de estar em harmonia. É falar meio "feiticeiro", como se cada palavra pudesse comover o outro*, movê-lo. Fazê-lo participar do "jam", sempre cuidando da harmonia. Conversar em "sinfonia", atento aos tempos, aos intervalos, às deixas. Conversar "adagio" e "allegro", conforme a evolução da música, para o que é preciso bons ouvidos de ouvir. "Falar como se fizesse música" é, sobretudo, cuidar para que o que digamos não agrida os ouvidos alheios.

* Dá uma olhada em Rubem Alves, Lições de feitiçaria.